3/09/2018

Rewrite (You)th ‑ Em contacto - Workshop de movimento com Susana Otero



Fotografia de CONSPURCADOS, de Joclécio Azevedo

Em contacto - Workshop


28 Março Santa Maria da Feira , PT



Sobre o projecto - Rewrite (You)th
Foi criado pelo Município de Santa Maria da Feira, Synergia, Rede Inducar, Scoala Gimnaziala Sat Strejnicu e House of Education na Innovation o projeto Rewrite (You)th é dirigido a jovens entre os 14 e os 18 anos de idade.

O  Programa Erasmus + Juventude em Ação consiste num intercâmbio entre Portugal e a Roménia. Os Intercâmbios de Jovens permitem aos mesmos desenvolver competências; tomar consciência de tópicos/áreas temáticas socialmente pertinentes; descobrir novas culturas, hábitos e modos de vida, principalmente através da aprendizagem entre pares; reforçar valores como a solidariedade, a democracia e a amizade, etc.

Rewrite (You)th tem como objetivo estabelecer-se como uma resposta aos persistentes desafios da desmotivação, perda de interesse e abandono escolar, desenvolvendo nos jovens participantes um conjunto de competências interpessoais e comunicacionais, promovendo a sua autoestima, autoconfiança e resiliência de forma a aumentar a comunicação “face to face”, mantendo-os afastados dos perigos da internet e promovendo as relações de amizade.


Workshop de Movimento - Estar em Contacto
Neste workshop vamos trabalhar o corpo em diferentes direcções que normalmente se usa, deixando o corpo disponível para além das tarefas utilitárias do dia a dia que são necessárias, focando no prazer de inserir um corpo num espaço e num contexto. Neste caso - Como manter contacto com o nosso corpo e com corpo dos outros? Mesmo estando afastados, com diferentes ideias, sem falar a mesma língua, com diferentes problemas?
Vamos trabalhar a ideia do corpo que nos une, da matéria usando técnicas de dança contemporânea, improvisação e composição coreográfica.

F for Food Uma performance culinária de Chef Rø

(scroll down for english)

[aka Rogério Nuno Costa]





16 Março
F for Food
 Uma performance culinária de Chef Rø
 School of Arts, Design and Architecture da Aalto University
 Espoo, Finlândia


A convite dos editores do livro “Food and Other Practices in the Arthouse” (Ali Akbar Mehta e Vidha Saumya) editado em 2017 pela Aalto University, e com base na compilação textual e visual do trabalho desenvolvido por Chef Rø entre 2006 e 2016 nele incluída, “F for Food” propõe a construção de uma fábula gastronómica em torno do conceito de fraude. Ou sobre a redução da Arte (e do resto) à disciplina do Design. Um presente envenenado dedicado a todos os cultural foodies que gostam de comer a carne sem lhe ver o sangue. It’s pretty, but is it Food?
A performance será apresentada durante o seminário de lançamento do livro “Food and Other Practices in the Arthouse”, no dia 16 de Março de 2018, na School of Arts, Design and Architecture da Aalto University (Espoo, Finlândia).




Rogério Nuno Costa é artista, investigador, professor, curador e escritor em vários projectos coolturais e pós-artísticos, formalmente americanos, conceptualmente europeus, religiosamente Kopimistas, filosoficamente Piratas e literariamente re-re-realistas (ou realistas gagos). Com formação académica na área da Comunicação, considera-se um observador (participante) com uma curiosidade mórbida pela arte que se parece mesmo com Arte, só devolvendo o resultado das suas investigações porque é o que manda o Código Deontológico dos Jornalistas. Na persona do Chef Rø, tem elaborado inúmeros cruzamentos da Cozinha Conceptual™ com as artes performativas e os novos media, pretendendo com isso que a Arte se eleve à categoria de Gastronomia (o contrário já foi feito). Não é actor; considera que todos os trabalhos de teatro/performance que realizou em colaboração com diversos artistas e companhias foram trabalhos de consultoria. Trabalha atualmente na construção (from scratch) de uma “Universidade”.




F for Food

A culinary performance by Chef Rø[aka Rogério Nuno Costa]


“F for Food” is a commission from Ali Akbar Mehta & Vidha Saumya, co-editors of the book “Food and Other Practices in the Arthouse” published in 2017 by Aalto University. Taking the contribution of Rogério Nuno Costa in the book (a textual and visual compilation of the work developed by Chef Rø between 2006 and 2016) as a starting point, “F for Food” proposes the building of a gastronomic fable around the concept of fraud. Or about the reduction of Art to the discipline of Design. A poisoned gift dedicated to all the cultural foodies that love to eat the meat without seeing the blood. It’s pretty, but is it Food?
The performance will happen during the lauching seminar of the book “Food and Other Practices in the Arthouse”, on the 16th March 2018, at the School of Arts, Design and Architecture, Aalto University (Espoo, Finland).

More:


Rogério Nuno Costa is an artist, researcher, teacher, curator and writer, working in many cool'tural and post-artistic projects that are formally American, conceptually European, religiously Kopimist, philosophically Pirate and literarily re-re-realist (or stutterer-realist). With an academic background in Communication, considers himself a (participant) observer with a morbid curiosity towards that art that really looks like Art; and he only delivers the results of his investigations because it is what the Code of Ethics for Journalists demands. Under the alias Chef Rø, he has been fabricating countless cross-disciplinary experiments with the so-called Conceptual Cooking™, the performing arts e the new media, aiming that one day Art will be considered a Gastronomy (the other way around has already been done...). He is not an actor; all theatre/performance works he has been engaging in were actually art consultancy collaborations. Currently, he is undertaking the building (from scratch) of a “University”.

(1917-19) Performance de Rogério Nuno Costa


Foto: “Nude Laying Down On A Couch, D’Après Marcel Duchamp’s Nude Descending A Staircase” © David Pissarra com Rogério Nuno Costa. Primeira residência artística para (1917-19) na Rua das Gaivotas 6, Lisboa, 2017.(1917-19)



9 Março
(1917-19)  work-in-progress, ensaio aberto 
Performance Lab #1 (The Fierce Urgency of Now)
 
Museum of Impossible Forms
 Helsínquia, Finlândia



(1917-19) é o título provisório da próxima performance teatral de Rogério Nuno Costa, uma colaboração trans-disciplinar entre artistas Portugueses e Finlandeses, com estreia em Portugal prevista para 2019. Inspirada na poética do artista solitário enquanto dispositivo visual, literário e dramatúrgico, a peça constrói-se a partir de uma narrativa textual que é auto-, é -bio- e é –gráfica, mas não autobiográfica. (1917-19) propõe a construção de uma parábola sobre a importância (leia-se: necessidade, leia-se condenação) de estar sozinho, mesmo quando rodeado de outros (sozinhos). Para esta primeira apresentação-em-progresso no Museum of Impossible Forms de Helsínquia (Finlândia), será testada a presença do silêncio e da invisibilidade/inevitabilidade na estrutura dramatúrgica da performance.


Em 1917, Duchamp escreve 1917 num urinol virado do avesso; em 1919, desenha um bigode no mais canónico retrato da história, não o original (Duchamp não é Banksy), também não a reprodução (a Pop não havia ainda sido inventada), mas um retrato “igual” pintado por ele, ou copiado do “original”, ou então um gesto em forma de renúncia: I prefer not to. Cem anos depois, ainda não sabemos o que fazer com o que ele terá feito. Mais do que um mero gesto transgressor, ou o profético anúncio de uma certa ideia de Fim (da arte e não só), o epifenómeno centenário esconde um programa mais obscuro: como se fosse impossível fazer mais depois de se ter obliterado tudo, abraça-se um auto-infligido ostracismo, um isolacionismo “conceptual”; Duchamp dispende décadas a fazer “nada”. Por isso Vila-Matas lhe dedica algumas notas de rodapé no seu Bartleby & Co., o não-livro dos autores-do-não, aqueles que mandaram calar a pena para deixar o silêncio falar. Reformular esse investimento de sentido na inevitabilidade do desaparecimento significa, hoje, podermos abraçar o abandono, o esquecimento, quiçá o desprezo, como um acto — o único possível — de resistência.




(1917-19)
Performance de Rogério Nuno Costa

(1917-19) (work-in-progress/open rehearsal), Performance Lab #1 (The Fierce Urgency of Now), Museum of Impossible Forms (Helsinki, Finland), 9th March 2018.


(1917-19) is the working title of Rogério Nuno Costa’s upcoming theatre work, set to premiere in Portugal in 2018/19, a cross-disciplinary collaboration between Portuguese and Finnish artists. Taking the poetics of the solitary artist as a visual, literary and dramaturgical starting point, the piece will be based in a textual/autobiographical narrative in the form of a “dialogical monologue”, or the building of a solitary togetherness. For this very first work-in-progress presentation in the Museum of Impossible Forms (Helsinki, Finland), the presence of silence and invisibility in the performance’s dramaturgical structure will be tested.

In 1917, Marcel Duchamp writes 1917 in an upside-down urinal. In 1919, the same artist  draws a moustache in the most important portrait of the history of art, not the original one (he’s not Banksy), not even a reproduction (Pop was yet to be invented), but a portrait he painted himself, copying the “original”, and, by doing so, stating: I prefer not to. One hundred years later, we still don’t know how to deal with those radical endeavours. More than clever attempts to revolutionise, shock or transgress the art world (or to prophesy the End of Art, some might have said), those historical epiphenomena hide a more obscure quest for a self-imposed ostracism and loneliness, as if it was impossible to do anything more after having obliterated almost everything. Duchamp spent decades doing nothing at all, the reason why Vila-Matas dedicated some footnotes to him in his Bartleby & Co., a non-book of “negative authors”, those who have decided to stop pushing the pen and let their silence do the talking instead. I am now interested in reformulating Duchamp’s questioning, assuming self-neglect and oblivion as an act of resistance. How can I reactivate a centennial gesture while facing my own ephemerality?

Picture: “Nude Laying Down On A Couch, D’Après Marcel Duchamp’s Nude Descending A Staircase”, performative  photograph by © David Pissarra with Rogério Nuno Costa. First residency for (1917-19) at Rua das Gaivotas 6, Lisbon, 2017.

3/07/2018

UNIVERSIDADE | YLIOPISTO (2015/20) um serviço meta-educativo de Rogério Nuno Costa



UNIVERSIDADE | YLIOPISTO (2015/20)
um serviço meta-educativo de Rogério Nuno Costa

A ACADEMIA ENQUANTO PERFORMANCE (laboratório experimental + publicação), Aalto University School of Arts, Design and Architecture (Espoo, Finlândia), Março 2018, dirigido por Rogério Nuno Costa em colaboração com um grupo internacional de artistas, investigadores e pedagogos atualmente a trabalhar no programa Visual Cultures, Curating and Contemporary Art.






  


UNIVERSIDADE | YLIOPISTO é um projecto duracional de Rogério Nuno Costa para a criação de uma universidade virtual, trans-nacional e trans-artística. Uma escola para ensinar a anular a arte através da Arte (ou vice-versa). Um laboratório de experiências Pop. Uma masterclass intitulada "A preguiça como novo avant-garde". Um workshop intensivo de Kopimismo. Um magazine cooltural. E um partido político demagógico, finlandizado e profil(árctico) a financiar o empreendimento.


“(...) num sentido muito literal, a universidade kantiana é uma instituição ficcional. A razão só pode ser instituída se a instituição permanecer uma ficção, se funcionar apenas ‘como se’ não fosse uma instituição. Se a instituição se torna real, a razão afasta-se.” [Bill Readings, A Universidade em Ruínas, Angelus Novus, p. 68]

O projecto propõe a construção de uma plataforma colaborativa de pensamento interdisciplinar ao longo de 5 anos “letivos”, operando, virtual e fisicamente, entre dois extremos da Europa: Portugal e Finlândia. Grupos de trabalho fluidos (e nómadas) encontrar-se-ão em espaços temporários com o objectivo de elaborar uma proposta híbrida de ensino artístico alicerçado em metodologias “não-artísticas”: como chegar à Arte sem ser através da arte? Uma universidade meta-referencial que oferece um só programa — o dos “estudos universitários” —, num diálogo rizomático e taxonómico entre todas as Artes e todas as Ciências, e num sistema discursivo não-hierárquico e pós-capitalista. Para tal, ensaiar-se-ão novos paradigmas educacionais, experimentar-se-ão novos modos de subjectivação e de partilha de conhecimento, antever-se-ão novos modelos éticos (logo, estéticos) na relação “mestre/aprendiz”, reciclar-se-ão pressupostos que estiveram na origem da missão universitária ocidental e que a (pós-)modernidade, quantitativamente empreendedora e empresarial (ensino enquanto produto, aluno enquanto cliente), terá feito extinguir.

Após a realização de um proto-laboratório em Bucareste em Julho de 2015, em colaboração com o projecto E-motional | rethinking dance, o Ano Um (2016/17) arrancou oficialmente em Outubro de 2016 na School of Arts, Design and Architecture da Aalto University (Helsínquia), num diálogo simbiótico com o programa Visual Cultures, Curating and Contemporary Art. O sub-programa “A Academia enquanto Performance”, que deu início ao Ano Dois (2017/18) na Porta33 (Funchal) em Novembro de 2017, continua agora na Finlândia. Chegará ao Porto (mala voadora) em Maio, no contexto do projecto “Recurso”, uma iniciativa da Estrutura.

MAIS INFORMAÇÃO:



UNIVERSITY | YLIOPISTO (2015/20)
a meta-educational service by Rogério Nuno Costa

UNIVERSITY | YLIOPISTO is a durational meta-project for a virtual, trans-national and trans-artistic multiversity. A school where we can learn how to annul Art by the means of art itself. A laboratory to test Pop as the ultimate cultural appropriation. A masterclass titled "Laziness as the new avantgarde". An intensive workshop about Kopimism. A cooltural magazine. And a very demagogic, finlandized and prophyl(arctic) political party.

Next Activites:
THE ACADEMY AS PERFORMANCE (experimental lab + publication), Aalto University School of Arts, Design and Architecture (Espoo, Finland), March 2018, directed by Rogério Nuno Costa in collaboration with a group of artists, researchers and educators currently working in the program Visual Cultures, Curating and Contemporary Art.


 “(...) in a very literal sense, Kantian university is a fictional institution. Reason can only be institutionalized as far as institution itself can remain a fiction, if it can only work ‘as if’ it was not an institution. When the institution becomes real, reason turns away.” [Bill Readings, The University In Ruins, Harvard, p. 68]

The project proposes the building of a collaborative platform for inter-disciplinary thinking throughout 5 “school” years, thus operating, both virtually and physically, between two European “extremes”: Portugal and Finland. Fluid and nomadic work groups will meet in temporary spaces driven by one major goal: to elaborate a hybrid model for artistic learning based on “non-artistic” methodologies, or how can one reach Art without being through art? A self-referential academy that offers one program only — the “academic studies” program —, structured in a rhyzomatic and taxonomical dialogue between all Arts and all Sciences, within a discursive system that is non-hierarchical and post-capitalist. For that purpose, new educational paradigms will be tested, new modes of subjectivation and share of knowledge will be experimented, new ethical (therefore, aesthetic) models for the relation “master/apprentice” will be foreseen. Ultimately, some of the premises that originated the mission behind Western university will be recycled, those same premises that (post-) modernity, quantitatively entrepeneur and business-oriented (education as a product, student as a client), has been extinguishing for the last two decades.

After the proto-laboratory that took place in Bucharest (Romania) in July 2015, in a partnership with E-motional | rethinking dance, the Year One (2016/17) was officially launched in October at Aalto University’s School of Art, Design and Architecture (Helsinki, Finland), in a symbiotic dialogue with the program Visual Cultures, Curating and Contemporary Art. The sub-program “The Academy as Performance”, that intiated the Year Two (2017/18) at Porta33 (Funchal, Portugal) in November 2017, continues this month in Finland, traveling to Porto (mala voadora) in May, within then frame of “Recurso”, an initiative of Estrutura.


MORE INFORMATION:

3/02/2018

REPERTÓRIO PARA CADEIRAS, FIGURANTES E FIGURINOS, de Miguel Pereira





REPERTÓRIO PARA CADEIRAS, FIGURANTES E FIGURINOS, de Miguel Pereira
para o Ballet Contemporâneo do Norte
Festival Cumplicidades de 10 a 16 de março no Teatro Ibérico.
www.festivalcumplicidades.pt





10, 12, 13, 14, 15 e 16 de março às 21h30 e 11 de março às 19h00
Teatro Ibérico, Lisboa





Uma natureza efémera como a do espectáculo ao vivo coloca-nos sempre perante a sua frágil materialidade, ficando-nos na maior parte dos casos a memória e os relatos (e algumas fotos ou registos filmados é certo) como possibilidade de reconstituição histórica. Mas o que acontece naquele momento entre o espectador e o espectáculo é aquilo que faz sem dúvida a sua força e a sua existência.

Na coincidência entre o convite que o Ballet Contemporâneo do Norte (BCN) me fez para criar uma peça para a companhia e o assinalar dos seus 20 anos de existência pareceu-me oportuno ter um pensamento retrospectivo, como se olhando o passado pudessemos suspender por momentos um presente incerto, possibilitando assim uma acção futura.

"Repertório para Cadeiras, Figurantes e Figurinos" é uma tentativa de recriação e composição a partir de várias obras do repertório do BCN, do meu próprio trabalho e de alguns autores que marcaram a história da dança em geral, tendo por eixo 3 elementos temáticos: cadeiras, figurantes e figurinos.     

Miguel Pereira


Concepção, Direcção Artística e Espaço Cénico | Miguel Pereira
Interpretação | Joclécio Azevedo e Susana Otero com Alexandra Gondim, Silvana Pinto, Tiago Abelho, Diana Mota, Beatriz Marques Silva, Gonçalo Costa, Ibrahima Kebe, Vasco Temudo, Maria Matos, David Silva, Filipe Ambrósio, Jessica Guez, Diogo Cadete e Beatriz Pires
Desenho de Som | Pedro Augusto
Operação de Som | Vitor Barros
Desenho de Luz | Cárin Geada
Operação de Luz | Eduardo Pouso
Figurinos | Miguel Pereira com a colaboração de Jordann Santos (a partir de figurinos originais do BCN)
Teaser e Vídeo | Leonel Meneses e Alex Barone
Documentação | Rogério Nuno Costa
Fotografias | Miguel Refresco e Xana Novais
Imagem inicial | Eduardo Ferreira


Produção | BCN
Co-produção | Rivoli – Teatro Municipal do Porto
Residências | Rivoli – Teatro Municipal do Porto, A22 - Armazém 22
Apoio à divulgação | O Rumo do Fumo
Agradecimentos | Tup - Teatro Universitário do Porto, Cristina Grande, Magda Henriques, Luísa Veloso, Jordann Santos, Elisa Worm, O Rumo do Fumo, Luís Carolino e Erva Daninha


Dedicamos “Repertório para cadeiras, figurantes e figurinos” a Joana Botelho e Manuel Poças.



Uma arqueologia a-temporal (e incidental) de factos/ficções para ver Repertório para cadeiras, figurantes e figurinos, um espetáculo de Miguel Pereira para o Ballet Contemporâneo do Norte




Se está a ler este texto, assuma que na verdade já o leu. Ou se decidir parar para ler mais tarde (por exemplo: depois do espetáculo), assuma que essa sua projeção futura está na verdade a acontecer no dia 29 de Abril de 1995, ou então 2015, ou então amanhã, em 2025, em 5225, ou há 2525252525 anos atrás. Já sabemos que não houve Big Bang nenhum. A inexistência de um qualquer Início inaugural leva à consequente invalidação de toda e qualquer ideia de Fim. Vamos então impor, aqui, neste texto, uma nova temporalidade, uma historiografia transformada em historiologia, ou uma gramática do infinito. Para uma ciência (exata!) das especulações, e para uma elaboração trans-histórica à volta de um espetáculo, dos seus criadores e dos seus espetadores. A viagem será vertiginosa; aconselhamos alguma calma... Lembre-se que pode sempre parar, conquanto tenha uma cadeira perto de si onde possa sentar-se e observar a sua própria respiração. Não queira procurar no texto explicações para o espetáculo que vai/está a ver, nem tão pouco uma verificação das suas especificades técnicas. O texto é uma emanação do espetáculo e projeta-se em várias direções temporais e emocionais: para trás dele, para a frente dele, para dentro dele. Mas não por causa dele. Quando deixa de haver “história” (a palavra e também a disciplina), omite-se a consequencialidade: passado, presente e futuro condensados num só prisma arquitetural. Entendamos, então, que nunca viajámos no espaço, mas sim no tempo; e que este é circular, circulatório e circunscrito. Ou seja, infinito. Tal como este texto. Mas não se deixe enganar! O espetáculo que vai/está a ver não é do Agora, esse chavão formal inventado à pressa pela Taschen para vender resumos Europa-América... O espetáculo que vai/está a ver é do regime do Depois. Não começa, logo, não acaba, resistindo num sempiterno a-pós, num incomensurável e fatídico a-seguir... Entrar nesta realidade matricial implica termos que desapertar o cinto da convenção, parar o relógio, ficar à espera que a hora marcada volte a ser verdade, para então abraçarmos definitivamente a nossa condição de figurantes/figurinos sentados, em pano de fundo, a assistir à mesma tragédia de sempre. Os espetáculos são todos iguais. Todos. Só muda o foco. Assumamos então este texto, caro leitor, como uma lente progressiva, não para ver melhor, nem sequer para ver mais, mas para ver depois. No texto, e também no espetáculo, se condensa(rá) tudo aquilo que já aconteceu e tudo aquilo que vai acontecer. Por serem desprovidos dos erros associados ao destino biológico — o texto é uma folha de papel com um prazo de validade muito superior ao da pessoa que o segura; o espetáculo é uma realidade imaterial, logo, sem tempo —, ambos se apresentarão em permanente curto-circuito lógico, revendo infinitamente as milhares de hipóteses de futuros e de passados possíveis.

Post hoc ergo propter hoc.

Por (já) não haver qualquer diferença epistemológica entre realidade e ficção, queremos então convidá-lo a participar desta nossa arqueologia de descobertas que são invenções, e de invenções que são descobertas, e assim sucessivamente... Repito: não se deixe enganar! É tudo verdade, aqui e no palco! Qualquer semelhança da cronologia do texto com a do espetáculo terá sido pura coincidência. Ou não... Caberá a si apontar a agulha para um, para o outro, ou para os dois ao mesmo tempo. É no Norte que deverá encontrar a chave para a decifração do momento.

Rogério Nuno Costa
(his)STORY


Entre 4.1 a 3.9 biliões de anos atrás
Após o bombardeamento de meteoritos que deu origem à Lua e que terá, segundo os especialistas da altura, erradicado da face da Terra todas as formas primordiais de Vida, essa mesma Vida renasce 300 milhões de anos depois, ou seja, no dia seguinte, exatamente do mesmo ponto onde tinha terminado. Os especialistas da altura definem este momento como o início da Contemporaneidade.

65 milhões de anos atrás
Um novo cataclismo tragicómico faz desaparecer os dinossauros da face da Terra, assim como 50% de todas as restantes formas de vida. Os outros 50%, por não saberem que são metade de algo que já não é, acreditam ser donos do seu próprio destino. Nasce a primeira teoria da conspiração, que os especialistas da altura designam por Arte.

1.9 milhões de anos atrás
Um homem põe-se em bicos de pés, levanta os braços no ar, consegue ficar erectus durante uns breves segundos, suficientes porém para conseguir chegar a uma árvore com maçãs. Nasce o Ballet.

1.9 milhões de anos atrás (+ 1 dia)
O mesmo homem regressa à árvore para apanhar outra maçã, repetindo exatamente os mesmos movimentos. Um segundo homem senta-se numa pedra e fica a observar. Nasce o Teatro.

Entre 100 a 500 mil anos atrás
Um homem cobre-se de pele de antílope e sai para ir caçar. Por se parecer com um antílope, atrai outros antílopes. Não só caça mais, como também é caçado. Nasce a roupa. No dia seguinte, outro homem aproveita-se da desgraça do homem morto e rouba-lhe a pele de antílope para assim poder reproduzir tecnicamente o seu sucesso. Nasce o figurino.




20 mil anos atrás
Com a ajuda de pigmentos naturais, um homem imprime a marca da sua mão numa gruta em Lascaux (atual França), colocando a seguinte legenda: “Se eu não partilhar isto no meu mural, é porque nunca aconteceu”. Nasce a História.

±1000 a.C.
Alguém, ao ser questionado sobre a existência de um deus omnipotente, omnipresente e onnisciente, leva o dedo indicador à língua, molha-o com saliva e aponta-o aleatoriamente para cima da cabeça. Nasce a noção ocidental de Norte.

700 a.C.
Hesíodo escreve sobre si próprio e chama a isso História. Nasce a Arte Conceptual.

495 a.C.
Poucas horas antes de morrer, Pitágoras afirma que o número 1 não existe, provocando uma disrupção cósmica e um rasgo incidental na linha do espaço/tempo. Desse cataclismo emana o conceito contemporâneo de “linha morta”, em Língua Franca: deadline.

450 a.C.
Heródoto de Halicarnasso escreve as suas Histórias. Autores contemporâneos detetam no texto vários plágios, mas porque ainda não existia o conceito de copyright e a Justiça™ distinguia futurologia de passadologia, Heródoto é aclamado o pai da História. Da disciplina, não da palavra.

347 a.C.
Platão revela aos Atenienses que o Início é a parte mais importante de qualquer trabalho. Morre logo a seguir.

0
Nasce Jesus Cristo. Para comemorar, imprime-se o primeiro calendário e o Mundo começa a avançar numa só direção.

Entre os séculos V e XIV d.C
Hiato a-temporal que os especialistas definem por “trevas”, espaço privilegiado para a efabulação fetichista da ficção contemporânea. Datam deste período as primeiras reconstituições históricas e os primeiros cursos práticos de Mimésis (aka Histórias para Pessoas Mimadas).

1492
Cristóvão Colombo inventa a América e Guy Debord começa imediatamente a escrever a Sociedade do Espetáculo.

Século XVI
As “trevas” terminam não com o início da Renascença, mas com a vulgarização da cadeira como assento privilegiado para os momentos de paragem higiénica. Todos os atos e ações quotidianos passam a ser observados de uma zona de conforto. Desenham-se roupas especiais para vestir nesses momentos. Nascem as primeiras cátedras em Estudos de Performance.

1637
Devido a um entrelaçamento quântico do mundo ocidental com o mundo oriental, o espaço é agora cartesiano. O tempo também. Schrödinger, de passagem trans-dimensional por estas bandas, escreve a seguinte anedota: “O tempo perguntou ao espaço quanto tempo o espaço tem. O espaço respondeu ao tempo que o tempo tem tanto espaço quanto espaço o tempo tem.”

1661
Luís XIV funda a Académie Royale de Danse. O Ballet passa a designar-se por dança comunitária. Não fosse a sua migração Contemporânea para o Norte, e ter-se-ia extinguido.


1752
Diderot, na sua Encyclopédie, escreve sobre a cadeira. Assim: “S.f. (Art mécanique) espèce de meuble sur lequel on s'assied.”





1818
Mary Shelley publica a obra-prima Frankenstein, um tratado filosófico onde o conceito de mashup é pela primeira vez definido e sistematizado.

1847
A palavra francesa répertoire é usada pela primeira vez para se referir a um conjunto de peças que uma companhia ou um intérprete sabe ou se encontra preparado para executar. Vem do Latim repertorium, que significa catálogo ou inventário. As companhias de dança passam a ser dirigidas por Diretores de Marketing.

1853
Estreia a ópera La Traviata de Giuseppe Verdi, a primeira stock opera da história, re-utilizada massivamente em anúncios publicitários, cerimónias inaugurais, comícios políticos, cenas heróicas de filmes de Hollywood, vídeos de apanhados no Youtube e espetáculos de dança-teatro com forte carga emocional.

1863
Acontece o primeiro Salon des Réfusés, em Paris.

1905
Albert Eisntein publica Zur Elektrodynamik bewegter Körper ("On the Electrodynamics of Moving Bodies”). Quase ao mesmo tempo, Vaslav Nijinski, então com 15 anos, recebe a sua primeira standing ovation após um incrível salto em suspensão durante uma apresentação escolar ao som de In A Persian Market.

1916
Em Zurique, vários artistas Dada anunciam um grande espetáculo, com data e local marcados. Chegado o dia, o público aparece, mas nada acontece. Um ano depois nascem Miguel Pereira, Susana Otero, Joclécio Azevedo e Rogério Nuno Costa, quase ao mesmo tempo. Crê-se que esse ano inaugural seja a Fonte donde nascem todos os artistas que se encontram vivos em 2016.

1919
Marcel Duchamp escreve L.H.O.O.Q. em cima de uma reprodução da Mona Lisa. Nasce a primeira folha de sala da história.

1928
Alexander Fleming esquece-se do relógio no seu laboratório de experiências químicas. Quando regressa das férias, descobre a vacina contra a linearidade narrativa. Num plano paralelo mais ou menos simultâneo, Magritte escreve “ceci n’est pas une pipe” numa tela com o mesmo nome.


1931
Alvar Aalto desenha a icónica cadeira de braços 41 Paimio. Nasce o conceito contemporâneo de retro.

1937
É atribuído o primeiro Óscar para Melhor Ator Secundário pela Academy of Motion Pictures Arts and Sciences. Surge o conceito contemporâneo de “artista emergente”.

1943-47
Na Suécia, O IKEA comercializa as primeiras cadeiras ergonómicas com materiais leves e baratos. Quatro anos depois, a poucos quilómetros de distância, a H&M comercializa as primeiras t-shirts básicas que dão com tudo. Ainda se enterram os corpos do Holocausto, mas no Norte (o da Europa e o da América) já se fala à boca cheia de do-it-yourself.

1949
Inspirado pela figura de Joseph Stalin, que mandava editar fotografias suas de forma a eliminar pessoas desnecessárias (inimigos, defuntos, etc.), George Orwell escreve o manual de instruções 1984, prevendo importantes vanguardas estéticas contemporâneas, como o Photoshop.

1952
Ionesco publica "As Cadeiras", uma peça de teatro sobre cadeiras. A invisibilidade passa a ser o tema-fetiche de todas as artes e de todos os ofícios.

1968
Ao terceiro dia do mês de Agosto, Salazar cai de uma cadeira.

1973
Andy Warhol transforma Mao Tsé-Tung num ícone pop: colorido, massivo e reprodutível.


1974
No dia 6 de Abril, em Brighton, o grupo musical Abba, representando a Suécia, ganha o Festival Eurovisão da Canção com “Waterloo”, uma música disco que fala sobre rendição. Dezanove dias depois, em Portugal, a cadeira rende-se à decrepitude e cai em cima dela própria.

1978
Pina Bausch estreia a peça-ícone Café Müller. É sobre cadeiras.

1983
Na mesma latitude geográfica, logo estética, Anne Theresa de Keersmaker apresenta Rosas danst Rosas. Também é sobre cadeiras.

1989
A 9 de Novembro, em Berlim, cai a maior cadeira do Mundo. Deixa de fazer qualquer sentido escrever coisas como “é sobre...”.

1990
António Pinto Ribeiro publica a obra Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo. “As cadeiras definem o homem como ser que, em determinados momentos do seu percurso histórico, necessita de conter a energia das ações e dos movimentos para pensar essa mesma energia”. Descartes e Einstein andam à chapada no túmulo.

1991
Após visitar as grutas de Lascaux, Donna Haraway escreve, com 20 mil anos de atraso, o Manifesto Cyborg. O Mundo inteiro (Portugal incluído) senta-se numa cadeira e pára para pensar. Hashtags: anos90, novadança, crisedaoriginalidade. Vera Mantero levanta-se da cadeira e diz: talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois. Descartes e Einstein fazem as pazes.

1993
A European Organization for Nuclear Research (CERN) coloca o software da World Wide Web no domínio público. O primeiro site disponibilizado na World Wide Web é sobre a World Wide Web. A banda holandesa 2 Unlimited lança o hit No Limit, cantando “no no limits, won’t give up the fight, we do what we want, and we do it with pride”, obra seminal do último movimento artístico 100% europeu: o eurodance.

1995
Nasce, no dia 29 de Abril, o Ballet Contemporâneo do Norte. Traduzido livremente a partir da Novilíngua, o nome significa qualquer coisa como: sistema (ballet) infinitamente (contemporâneo) imaterial (do Norte).




1998
Elisa Worm cria a primeira peça para o Ballet Contemporâneo do Norte e chama-lhe A Última Dança. O fim passa a ser o tema-fetiche de todas as artes e de todos os ofícios.

1999
Na Holanda, nasce o programa de televisão Big Brother, um tutorial pré-apocalíptico d’après Orwell para as pessoas aprenderem a (sobre)viver: todas as coisas passam a ser sobre elas próprias. A 31 de Dezembro, ao bater da meia-noite, os computadores deixam de reconhecer a linguagem binária e o mundo (em letra pequena) colapsa.

2000
Miguel Pereira, o primeiro coreógrafo pós-apocalíptico da (His)tória, cria Antonio Miguel, homenageando Hesíodo, passando por cima de Heródoto, e perpetuando o Fim para lá da sua morte anunciada.

2001
Os belgas 2 Many Djs/Soulwax vaticinam que a música pop perfeita será aquela que conseguir juntar os melhores truques de todas as melhores músicas pop da História, um frankenstein meta-referencial a que chamam Pop will eat itself. A arte, como sempre fez, vê e copia. Meses depois, as Torres caem (já não há cadeiras) e o Stockhausen aplaude. Miguel Pereira volta a profanar a linearidade temporal e cria Notas para um Espetáculo Invisível.


2002
Cada vez mais arqueológico, a-temporal e incidental, Miguel Pereira esquece-se do relógio no seu laboratório químico, e quando regressa descobre a vacina contra o vírus da animação sócio-cultural. Apresenta a patente sob a forma de espetáculo a que dá o nome de Data/Local. Rogério Nuno Costa assiste duplamente ao espetáculo e aos espetadores; estes, recusando arrancar os óculos 3D que trazem acoplados à retina, caem como tordos das cadeiras. Quando regressa a casa, Rogério ouve os primeiros mashups de Gregg Gillis [aka Girl Talk] e decide que em 2016 irá escrever um texto que é todo ele um mashup de outros textos já escritos, ou por escrever.

2003
O Human Genome Project consegue sequenciar 99% do genoma humano com uma taxa de  precisão de 99.99%. Em jeito de homenagem espiritual a tais empreendimentos, Luís Carolino cria a Teologia da Queda para o Ballet Contemporâneo do Norte.

2005
Arte e Entretenimento já não se distinguem. Miguel Pereira apresenta Corpo de Baile, um espetáculo onde os figurinos são os protagonistas.

2008
Rogério Nuno Costa descobre na Internet que o texto-mashup que ele quer escrever já foi escrito. Começa a Crise.

2009
Slavoj Žižek publica First as tragedy, then as farce. Meses depois, circula na Internet uma lista de inventores que foram mortos pelas suas próprias invenções.

2010
Elisa Worm apresenta 7 Personagens em Hora de Ponta, a sua última peça para o Ballet Contemporâneo do Norte. Um espetáculo onde os figurantes são os protagonistas.




2011
Inspirada pelo revivalismo vintage, Beyoncé lança o single Countdown, onde faz uma revisão académica, em bomba-relógio, de todos os coreógrafos europeus do Antigo Regime, desde o apogeu frenético dos anos 80 à sua derrocada conceptual dez anos depois. É acusada de plágio, mas a Justiça™ já não funciona retroativamente... Susana Otero cria para o Ballet Contemporâneo do Norte a peça A notícia da minha morte foi um exagero.

2012
Joclécio Azevedo cria para o Ballet Contemporâneo do Norte a peça Conspurcados. A Nostalgia™ passa a ser o tema-fetiche de todas as artes e de todos os ofícios. Por tal motivo, o Mundo desiste de acabar.

2014
Os 2 Unlimited regressam após um hiato de 15 anos. Rogério Nuno Costa regressa, com eles, a todos os pesadelos fin-de-siècle, criando para o Ballet Contemporâneo do Norte a peça EURODANCE. É sobre a última vez em que a Europa foi um continente-conceito feliz, ou seja, é sobre o adiamento (nostálgico) do Fim. Outra vez.

2015
O Ballet Contemporâneo do Norte completa 20 anos de existência e não faz nada para comemorar: efémero e efeméride partilham o mesmo radical grego, mas nunca se deram muito bem. A partir de uma fotografia tirada por Edgar Tavares ao espetáculo 7 Personagens em Hora de Ponta, de Elisa Worm, onde dois bailarinos mais ou menos anónimos criam incidentalmente a imagem de uma cadeira, Miguel Pereira começa a criar o espetáculo Repertório para cadeiras, figurantes e figurinos. Rogério Nuno Costa, de visita à sala de ensaios, rouba a matriz que deu origem a este texto, colada em papel de cenário numa das paredes.





2016
Em Abril, poucos dias antes da re-estreia de Repertório para cadeiras, figurantes e figurinos, Rogério Nuno Costa escreve a palavra History no Google e a primeira coisa que aparece é uma música-repertório de uma banda chamada One Direction.

2016
Em Maio, poucos dias após a re-estreia de Repertório para cadeiras, figurantes e figurinos, é publicada numa revista da especialidade a seguinte “crítica” ao espetáculo:

“(...) Repertório... propõe assim revisitar as fórmulas conceptuais criadas nos últimos tempos, mas em avalanche, em zapping cultural, reflexo do novo hedonismo que está hoje ao alcance de todos pela pirataria, pelo plágio e pelas novas tecnologias, que suprimem a agonia da escolha, os constrangimentos da falta de educação e de dinheiro, permitindo assim encontrar e criar em todo o lado, e a todo o momento, objetos de satisfação polimorfos. Esta prodigalidade cultural funciona como sistema imunitário contra todos aqueles que querem pôr em causa a sua legitimidade, expondo flagrantemente a caducidade das propostas de inúmeros artistas contemporâneos convencidos do caráter polémico, rebelde, escandaloso e subversivo das suas obras, sabendo que a cultura dominante tira benefício dessa pretensa provocação artística, transformando-a em nova retórica de Estado e de mercado. Por mais fascinantes que essas obras possam ser, elas só significam nostalgia e amargura. Em Repertório... reconhecemos essa redução do qualitativo ao quantitativo, como se tudo fosse desaguar confusamente à feira de produtos vintage, em segunda mão. A dualidade entre arte e kitsch, estabelecida no modernismo por Greenberg, está aqui desmascarada. Em Repertório..., a arte foi arrebatada pela loja dos trezentos, e as criadas podem finalmente vestir, sem medo, as roupas provocantes e vanguardistas da Senhora... Compreendemos agora como é obsoleta a estética fundada no juízo de valor e na qualidade das obras, assim como o ofício nulo da crítica de arte, alojado num papel puramente promocional. (...) Esta visão das coisas revela-nos, porém, dois conflitos. O primeiro reside no confronto da liberdade de julgar e elaborar critérios de gosto individual face à poderosa solicitação do consumismo e do sistema cultural; ou seja, na melhor das hipóteses, a nossa liberdade está viciada, pois estamos condicionados a fazer o que todos os outros fazem, quer se trate de arte, lazer ou turismo. O segundo nasce desse fosso que, nos regimes democráticos, se interpõe entre a cultura dos peritos e a cultura profana. Esta situação demonstra-nos claramente que, em termos artísticos, o projeto democrático nunca foi levado muito a sério, ou então reverteu-se em paródia de si mesmo. Como pode existir divisão entre alta cultura e cultura profana se o juízo de valor pressupõe o critério de qualidade? Se esse critério não existe, como o afirmam em cacofonia as vanguardas e todas as instituições artísticas, então a muralha entre classes culturais também se torna nula: é tudo pimba! Repertório... revela-nos esse mundo hiperrealista onde a arte perdeu toda a sua significação, sinistro eco no abismo do Real, pesadelo cool, transparente, pop e publicitário. O que nos permite distinguir a alta cultura depende de um mero ato de fé ou superstição. A arte comeu-se a si mesma, e assim morreu envenenada: contemplatio mortis apocalyptica. (...) O que Repertório... nos mostra, em delírio tragicómico e trans-referencial, é esse caminho de escombro e cinza, esse vislumbre de não-caminho, que nos leva aonde nós já estamos: aqui.”


2017
Miguel Pereira, Susana Otero, Joclécio Azevedo e Rogério Nuno Costa conhecem-se pessoalmente durante as comemorações dos 100 Anos do Fim da História. Juntos escrevem um texto-manifesto intitulado “O que é que não está na moda outra vez?”.

2019
A Indústria, cansada de ter que mudar os nomes aos sub-géneros musicais de cariz indie por se tornarem comerciais no espaço de poucas semanas, decide reduzir todas as categorizações a uma só: mashup. Todas as bandas e músicos do mundo deixam definitivamente de editar e passam a remisturar tudo o que já foi produzido. Na Europa, e por decisão parlamentar, todas as companhias passam a ser companhias “de repertório”, ficando assim impedidas de criar peças “novas”.

2024
Uma atualização ao Código do Trabalho inaugura a figura do “artista submergente”, que passa a receber apoios específicos para residências artísticas (entre outros projetos bartlebyanos) a partir do ano seguinte.

2025
Para assinalar os 30 anos de existência, o Ballet Contemporâneo do Norte aloja num website uma timeline a-temporal (e incidental) intitulada: Para uma Historiografia dos Excluídos, dos Invisíveis e dos Silenciados.

2037
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social exige que se crie o Prémio para a Melhor Cerimónia de Entrega de Prémios. No ano seguinte, o Comité Olímpico Internacional eleva finalmente a Arte à categoria de modalidade olímpica.

2038
A Sociedade Portuguesa de Autores é comprada pelo Sporting Clube de Portugal.

2064
A França faz-se representar na Bienal de Veneza por uma obra em grande escala pensada por um coletivo de robots.

2065
Morre Nicolas Bourriaud.

2578
Uma entidade nano-tecnológica não-corpórea, mas munida de inteligência natural, passeia-se por uma praia ao pôr-do-sol. Decide parar para apreciar a bela paisagem sideral. Senta-se numa cadeira, observando a sua própria respiração. Ao longe, ouve-se indistintamente os ecos de uma melodia subliminar: “You and me got a whole lot of history, We could be the greatest team that the world has ever seen, You and me got a whole lot of history, So don't let it go, we can make some more, we can live forever.”

Século XXII

Uma epidemia intergalática oblitera todas as manifestações de vida presentes no Cosmos, provocando um novo rasgo incidental na linha espaço/tempo. Desse cataclismo emana uma mensagem em código arcaico que é difundida até ao ano 2016. Essa mensagem diz: LOL.

Rogério Nuno Costa
Abril 2016


Fotografias de Miguel Refresco