Um diálogo virtual entre
Rogério Nuno Costa e Dinis Machado
Abril
2017 (Parte
I de V)
01.03.2017, Rogério Nuno Costa
Olá Dinis,
Este ano o
Ballet Contemporâneo do Norte inicia uma nova configuração no seu programa e na
sua acção, convidando artistas com quem tem colaborado nos últimos anos a
assumirem a direcção artística da companhia durante um ano. Em 2017 serás tu o
criador responsável pelo desenho do programa central da companhia, abraçando
aquilo a que gostamos de chamar "curadoria", terminologia porventura
mais próxima da realidade das artes visuais. Gostaria de iniciar contigo um
diálogo assumidamente fragmentado e duracional, ao longo deste ano, inspirado
pelas propostas que serão apresentadas, à velocidade da escrita e da
virtualidade que nos separa geograficamente (eu em Helsínquia, tu em Estocolmo,
o BCN em Portugal), revelando não só as ideias que fundamentam a tua acção
curatorial, mas também a importância deste gesto para a inauguração de um novo
olhar crítico sobre o BCN e o seu papel enquanto companhia de dança
contemporânea. Para começar (ou antes de
começar), nada melhor do que reflectirmos, justamente, sobre que significa
fazer "curadoria" no campo lato das artes performativas, ou o que
significa ser curador da efemeridade.
Passo-te a palavra, na esperança de nas próximas perguntas/interrogações
dissecarmos mais aprofundadamente aquele que será o programa para 2017 do
Ballet Contemporâneo do Norte.
Até já!
10.03.2017, Dinis Machado
Olá Rogério,
Se bem que é
obvia a condição efémera de qualquer trabalho performativo e, logo, do programa
que desenhei para este ano, parece-me importante questionar se essa condição
efémera não é semelhante à de qualquer outro objecto artístico que tem que ser
accionado para que se crie sobre ele uma atenção ou, se quisermos, uma espécie
de hipervisibilidade, que o torne num objecto dramatúrgico e interpretável para
o espectador. Parece-me que a partir do momento em que a dança se formaliza num
espectáculo, num objecto, a sua condição efémera também se torna questionável.
Esse objecto também é reactivável, revisitável, e decompõe-se, perdendo a sua
vitalidade contemporânea e convertendo-se na marca patrimonial de uma perquisa,
de uma obstinação, de um questionamento passado. O meu sentimento ao ver o
“porta-garrafas” do Duchamp não é muito diferente do sentimento de ver a
reconstituição do Parades and Changes da Anna
Halprin: um misto de adoração e náusea das
partidas que o nosso inevitável saudosismo e adoração pela história nos podem
trazer.
Interessam-me os
processos, as obsessões, as pesquisas, as práticas e os encontros na Arte, e em
particular na dança. E interessa-me também como é que os objectos que delas
derivam podem ser transparentes a estas dinâmicas, a estas vitalidades.
Interessa-me a fragilidade de uma objectualidade suficiente que sustém essas
dinâmicas, enquanto as deixa transparecer. Um objecto demasiado objecto torna-se opaco sobre a dinâmica
que o originou, não deixando ver mais do que a sua formalidade. De igual modo,
um objecto que não chega a ser não é suficiente para dar visibilidade ao
processo que o originou.
Gostava, assim,
que esta curadoria fosse uma curadoria de processos, de obsessões, de
pesquisas, de práticas e de encontros, entre artistas e com diferentes públicos
e contextos. Convidei para ela artistas que trabalham nesta objectualidade
tangível, que religa o objecto ou a imagem com a vitalidade de um discurso e
práticas contínuas.
Abraço,
Dinis
27.03.2017, Rogério Nuno Costa
Ou seja, essa
objectualidade transparente que referes não terá necessariamente a ver com uma
insistência na figura por demais banalizada do "work-in-progress" (há
quem diga que essa figura serve apenas uma qualquer desculpabilização do
artista que "não quer terminar o que iniciou"), mas antes a revelação
de uma temporalidade contínua e processual. Como é que isto se irá materializar? Como é que se partilham
vitalidades frágeis com o público, com que formatos ou configurações (de
espectáculo e não só)?...
30.03.2017, Dinis Machado
Parece-me que
levantas uma questão que me é muito cara e que tem a ver com o espaço de
coincidência e dissidência entre as coisas e os nomes. Numa perspectiva queer, eu diria que me interessa
reclamar para mim as palavras homem e
mulher, não para reactivar todas as
expectativas, códigos, protocolos e hierarquias associadas a elas, mas para as
derreter, repensar, remisturar... Ou seja, experimentar o que um homem ou uma
mulher podem ser, e não reiterar uma ideia de género calcificada em torno de
cada um desses papéis. Reconsiderar, também, quem pode reclamar esses títulos.
De igual modo, interessa-me o mesmo tipo de questionamento ao nível da
identidade de uma instituição, reclamando todos os formatos (espectáculo,
work-in-progress, workshop, companhia, coreógrafa, bailarino), para em
seguida nos perguntarmos, e experimentarmos, o que podem eles ser, expandindo
assim as fronteiras das suas possibilidades. Experimentar um lugar que não é um
espaço de ruptura, mas de reformulação. Parece-me demasiado fácil estar contra
a instituição, ser o antagonista. Interessa-me fazer parte das instituições e
trabalhar com elas na sua progressiva reformulação e nas suas possibilidades,
assumindo a responsabilidade e o risco partilhado desse processo.
Em 2009, decidi
estudar na escola de artes visuais Maumaus, em Lisboa, porque estava muitíssimo
intrigado sobre o que poderia ser a ideia de atelier, tal como é entendida nas artes plásticas, aplicada ao
universo das artes performativas. Eu tenho esta noção, talvez idealizada, de que
o estúdio nas artes visuais é um espaço onde um artista se ocupa ao longo do
tempo com uma prática contínua, de onde emergem objectos, por oposição ao
estúdio nas artes performativas, que é muito mais frequentemente um espaço onde
se vai por um período de tempo limitado com um projecto aprovado, que se
realiza. Tenho querido poder experimentar o que pode ser ir para o estúdio com
vista a deixar o objecto acontecer, em vez de ir para o estúdio para realizar o objecto. É o que quero também
para este programa do BCN. Há aqui, claramente, uma vontade de abandonar a
pré-definição retórica de um objecto artístico que ilustra uma ideia,
encontrando ao invés processos que descubram o objecto, abraçando a sua
materialidade.
No entanto,
tenho um enorme respeito por qualquer momento público. Lembro-me que quando
comecei a trabalhar (no final dos anos 90, princípio dos anos 2000) se faziam
“work-in-progress” por tudo e por nada, muitas vezes com muito pouca
consistência. Acredito que, quando se convoca um público, temos que estar
seguros que aquilo que apresentamos tem relevância para este outro, não
servindo apenas um propósito protocolar ou
institucional. Isto é válido tanto para situações “work-in-progress” como para
espectáculos: é preciso cuidar e manter o questionamento e a energia activa dos
processos que estão por trás das propostas, para que não se transformem na
repetição de um exercício vazio. Para isso, parece-me fundamental trabalhar e
alimentar aquilo que está antes da
produção do espectáculo. E é nesse sentido que me parece que existe tanto
potencial na ideia de companhia, como
o espaço intersticial onde esse questionamento (e prática) tem lugar: o que
pode ser um bailarino, o que pode ser dança, o que pode ser uma instituição.
Estes questionamentos e experimentações são algo que me ocupa muito também na
minha prática enquanto freelancer,
mas num espaço sem nome, improvisado entre produções de espectáculos.
31.03.2017, Rogério Nuno Costa
Ou seja, essa
experimentação constante que se materializa por entre as formas (e fórmulas) de
se produzir discursos assistirá não só ao programa "curatorial" que
desenhaste para este ano, mas também, e numa acepção se calhar mais subliminar,
à própria noção de companhia de dança contemporânea, que o BCN também deseja,
experimentalmente, reformular e repensar. Em jeito de conclusão desta primeira
parte do nosso diálogo, podes dar-me alguns exemplos do que vamos poder ver nos
próximos 3 meses de programação e que possam, de certa forma, ilustrar o teu
pensamento programático?
31.03.2017, Dinis Machado
A celebração do processo sobre o resultado
nas artes performativas nos anos 90/2000, ao mesmo tempo que as estruturas de
dança perdiam importância para dar lugar à figura do coreógrafo individual e da
sua celebração como super star, deram
origem a uma infinita produção de espectáculos que se construíam uma a partir
da reiteração modernista do próprio gesto da construção de um espectáculo. Mas,
ao mesmo tempo, e seguindo o advento liberal do momento, tudo aquilo que
estava "entre" a construção de espectáculos foi sendo considerado
dispensável. A companhia, como coisa (colectiva) em si mesma, e toda a
investigação inerente, mais a aula da manhã, o ensaio de repertório, etc.,
foram dispensados; pior: foram considerados responsabilidade autónoma do
bailarino, mais uma vez seguindo os princípios do freelancer liberal. Aquilo que proponho para este programa é "separar",
novamente, a instituição, o espectáculo, a dança e a coreografia. Ou seja,
entender a companhia como um lugar onde se cruzam múltiplos processos e
autorias, em vez de promover uma única linha dramatúrgica que é a do
coreógrafo. Parece-me cada vez mais evidente que a forma como se dança uma
coreografia carrega uma dramaturgia própria que coexiste com a dramaturgia que o
coreógrafo estruturou. O mesmo se pode dizer em relação à dramaturgia do
desenho que atravessa a programação de uma companhia, assim como à dramaturgia
de um espectáculo. Assim, de cada vez que a companhia se encontra com o
público, há várias linhas dramatúrgicas que se cruzam, completam e
inter-questionam. Não me parece que elas tenham que convergir; gostaria de
celebrar uma certa pluralidade, pós-moderna talvez... Gostava que o público não
aplaudisse uma obra de arte total, mas que pudesse perder-se no diálogo entre o
que se dança, como se dança, onde se dança, etc...
Nesse sentido, e
até ao Verão, a companhia vai reforçar, precisamente, tudo aquilo que não é a
produção de novas criações. Vamos iniciar um atelier mensal com o público de Santa Maria da Feira
chamado “Uma Dança Por Mês”, porque a dança é para se ver, mas também para
se experimentar, e a forma como a experimentamos na nossa vida é fundamental
para a maneira como olhamos para ela num contexto artístico. Vamos também praticar
e circular os trabalhos criados no ultimo biénio pela companhia. E, muito
importante, vamos repensar uma aula que vai ser praticada e re-estruturada ao
longo do ano pelos bailarinos que vão fazer parte do BCN este ano. Assim, a
primeira alínea da questão "O que pode ser uma companhia de dança?"
vai ser "O que pode ser uma aula diária de preparação de uma companhia de
dança?". Começaremos pela base! :)
(Parte II de V sairá com a newsletter de
Junho 2017.)
Curatorship BCN 2017
A virtual dialogue between Rogério Nuno
Costa and Dinis Machado
April 2017 (Part I of V)
01.03.2017, Rogério Nuno Costa
Hello Dinis,
This year Ballet Contemporâneo do Norte begins a new configuration in its program and in its action, inviting
artists with whom it has collaborated in the last years to assume the artistic
direction of the company during a year. In 2017 you will be the artist responsible for the design of the company's core program, embracing what we
like to call "curatorship", a terminology that may be closer to the
reality of the visual arts. I would like to start with you an assumedly
fragmented and durable dialogue, inspired by the proposals that will be
presented at the speed of writing and virtuality that separates us
geographically (I in Helsinki, you in Stockholm, BCN in Portugal),
revealing not only the ideas that underpin your curatorial action, but also the
importance of this gesture for the inauguration of a new critical eye on BCNs and its role as a contemporary dance company. To begin with (or before we
begin), there is nothing better than to reflect precisely on what it means to
"curate" the broad field of performing arts, or what it means to be a
healer of ephemerality. Let me say the word, hoping that in the next questions/interrogations we will dig deeper into what will be the 2017 program for
Ballet Contemporâneo do Norte.
See you soon.
10.03.2017, Dinis Machado
Hello Rogério,
Although the ephemeral condition of any
performative work is obvious, and therefore of the program I drew for this
year, it seems to me important to question whether this ephemeral condition is
not similar to that of any other artistic object that has to be actuated in
order to create an attention or, if we want, a kind of hypervisibility, that
makes it a dramaturgical and interpretable object for the viewer. It seems to
me that from the moment dance is formalized in a show, in an object, its
ephemeral condition also becomes questionable. This object is also reactivable,
revisable, and decomposes, losing its contemporary vitality and becoming the
patrimonial mark of a search, of obstinacy, of a past questioning. My feeling
about seeing Duchamp's "bottle rack" is not much different from the
feeling of seeing the reconstitution of Anna Halprin's Parades and Changes: a
mixture of adoration and nausea of departures that our inevitable nostalgia
and adoration for history can bring us to.
I am interested in the processes, the
obsessions, the researches, the practices and the meetings in the Art, and in
particular in dance. And I am also interested in how the objects that
derive from them can be transparent to these dynamics, to these vitalities. I
am interested in the fragility of sufficient objectivity that sustains these
dynamics, while letting them show. An object too object becomes opaque on the
dynamics that originated it, leaving no more than its formality. Similarly, an
object that isn't yet is not enough to give visibility to the process that
originated it.
I would like this curatorship to be full of processes, obsessions, researches, practices and meetings, between
artists and with different publics and contexts. I invited artists who
work on this tangible objectivity, which reconnects the object or image with
the vitality of a continuous discourse and practice.
Hug,
Dinis
27.03.2017,
Rogério Nuno Costa
That is, this transparent objectivity
you refer to will not necessarily have to do with an insistence on the overly
trivial figure of "work-in-progress" (some say that this figure
serves only any exculpation of the artist who "does not want to finish
what initiated "), but rather the revelation of a continuous and
procedural temporality. How will this materialize? How do you share fragile
vitalities with the public, in which formats or configurations (of spectacle
and not only)? ...
30.03.2017, Dinis Machado
It seems to me that you are raising an
issue that is very dear to me and that has to do with the space of coincidence
and dissidence between things and names. From a queer perspective, I would say
that it interests me to claim the words man and woman for me, not to rekindle
all the expectations, codes, protocols, and hierarchies associated with them,
but to melt, rethink, remix ... That is, that a man or a woman can be, and not
reiterate a calcified gender idea around each of these roles. Reconsider, too,
who can claim those titles. Likewise, I am interested in the same kind of
questioning at the level of the identity of an institution, demanding all
formats (show, work-in-progress, workshop, company, choreographer, dancer),
then ask ourselves, and try, what they can be, thus expanding the frontiers of
their possibilities. To experience a place that is not a space of rupture, but
of reformulation. It seems to me too easy to be against the institution, to be
the antagonist. I am interested in being part of the institutions and working
with them in their progressive reformulation and in their possibilities,
assuming the shared responsibility and risk of this process.
In 2009, I decided to study at the Maumaus Visual Arts School in Lisbon
because I was very intrigued about what the idea of an atelier, as it is
understood in the plastic arts, could be, applied to the universe of performing
arts. I have this notion, perhaps idealized, that the studio in the visual arts
is a space where an artist occupies himself over time with a continuous
practice, from where objects emerge, as opposed to the studio in the performing
arts, which is much more often A space where you go for a limited period of
time with an approved project, which takes place. I've wanted to be able to try
out what it might be to go to the studio with a view to letting the subject
happen instead of going to the studio to do the thing.
That is what I also want for this BCN program. There is clearly here a willingness to abandon the rhetorical pre-definition of an artistic object that illustrates an idea, instead of finding processes that discover the object, embracing its materiality. However, I have tremendous respect for any public moment. I remember that when I started working (in the late 1990s, early 2000s) work-in-progress was done for everything and nothing, often with very little consistency. I believe that when an audience is called, we have to be sure that what we present has relevance to this other, not serving only a protocolary or institutional purpose. This applies to both work-in-progress and spectacle situations: the questioning and active energy of the processes behind the proposals must be maintained and maintained so that they do not become a repetition of an empty exercise. For this, it seems fundamental to me to work and to feed what is before the production of the show. And it is in this sense that it seems to me that there is as much potential in the idea of company as in the interstitial space where this questioning (and practice) takes place: what can be a dancer, what can be dance, what can be an institution. These questions and trials are something that occupies me a lot also in my practice as a freelancer, but in an area without name, improvised between productions of shows.
That is what I also want for this BCN program. There is clearly here a willingness to abandon the rhetorical pre-definition of an artistic object that illustrates an idea, instead of finding processes that discover the object, embracing its materiality. However, I have tremendous respect for any public moment. I remember that when I started working (in the late 1990s, early 2000s) work-in-progress was done for everything and nothing, often with very little consistency. I believe that when an audience is called, we have to be sure that what we present has relevance to this other, not serving only a protocolary or institutional purpose. This applies to both work-in-progress and spectacle situations: the questioning and active energy of the processes behind the proposals must be maintained and maintained so that they do not become a repetition of an empty exercise. For this, it seems fundamental to me to work and to feed what is before the production of the show. And it is in this sense that it seems to me that there is as much potential in the idea of company as in the interstitial space where this questioning (and practice) takes place: what can be a dancer, what can be dance, what can be an institution. These questions and trials are something that occupies me a lot also in my practice as a freelancer, but in an area without name, improvised between productions of shows.
31.03.2017, Rogério Nuno Costa
That is, this constant experimentation that materializes among the forms
(and formulas) of producing speeches will assist not only the
"curatorial" program that you designed for this year, but also, and
in a more subliminal sense, the very notion of contemporary dance company,
which BCN also wishes experimentally to reformulate and rethink.
In order to conclude this first part of our dialogue, can you give me some examples of what we will be able to see in the next 3 months of programming and that can, in a way, illustrate your programmatic thinking?
In order to conclude this first part of our dialogue, can you give me some examples of what we will be able to see in the next 3 months of programming and that can, in a way, illustrate your programmatic thinking?
31.03.2017, Dinis Machado
The celebration of the process of performance in the performing arts in
the 1990s and 2000s, at the same time as the dance structures lost importance
in order to give place to the figure of the individual choreographer and his
celebration as a super star, gave rise to an infinite production of spectacles
Which were constructed one from the modernist reiteration of the very gesture
of building a show. But at the same time, and following the liberal advent of
the moment, everything that was "between" the construction of shows
was considered dispensable. The company as a thing (collective) in itself, and
all the research inherent, plus the morning class, repertory essay, etc., were
dispensed with; Worse: they were considered autonomous responsibility of the
dancer, again following the principles of liberal freelancer. What I propose
for this program is to "separate", again, the institution, the
spectacle, the dance and the choreography. That is, to understand the company
as a place where multiple processes and authors intersect, instead of promoting
a single line of drama that is that of the choreographer.
It seems to me increasingly evident that
the way in which a choreography is danced carries its own dramaturgy that
coexists with the dramaturgy that the choreographer structured. The same can be
said in relation to the dramaturgy of the drawing that crosses the schedule of
a company, as well as to the dramaturgy of a spectacle. Thus, every time the
company meets the public, there are several lines of drama that intersect,
complete and inter-question. I do not think they have to converge; I would like
to celebrate a certain plurality, perhaps postmodern ... I would like the
public not to applaud a total work of art, but that could be lost in the
dialogue between what one dances, one dances, one dances, and so on. ..
In this sense, and until the summer, the
company will reinforce precisely what is not the production of new creations.
Let's start a monthly atelier with the public of Santa Maria da Feira called
"One Dance Per Month" because dance is to see, but also to
experience, and the way we experience it in our life is fundamental to the way
we look at it in an artistic context. We will also practice and circulate
the works created in the last biennium by the company. And, very importantly,
we will rethink a lesson that will be practiced and re-structured throughout
the year by the dancers who will be part of BCN this year.
So the first paragraph of the question "What can be a dance company?" Will be "What can be a daily lesson in the preparation of a dance company?". We'll start at the base! :)
So the first paragraph of the question "What can be a dance company?" Will be "What can be a daily lesson in the preparation of a dance company?". We'll start at the base! :)
(Part II of V will leave with the newsletter of June 2017.)