1/10/2017

OUTROS FORMATOS II






Esta é a segunda edição de um projeto do BCN – Ballet Contemporâneo do Norte que pretende desafiar os coreógrafos e criadores contemporâneos a proporem o seu trabalho artístico através de uma convocatória para a criação de espetáculos de curta duração integrando o elenco da companhia. 
O projeto engloba cinco peças de curta duração cuja apresentação, em conjunto, terá a duração de um espetáculo regular. Propõe-se para a presente edição a apresentação de dois trios: um de Renata Portas - Que ruído faz o teu corpo contra o meu? - e um de Flávio Leihan - Haiku
Um solo de Jorge Gonçalves - Holding the hands at the tip of my words. 
E dois duetos: da Sade Risku - Incoherent Conversation - e do Sérgio Diogo Matias - Insólidos.  




Flávio Leihan - Haiku

Haiku, é um universo em plena mutação que - sob a forma de seres com cabeças de rãs e de serpentes - se sucedem na génese do universo, apresentando a ideia do “olho de peixe”.

- O homo que ainda vai demorar a tornar-se “sapiens”, que desde há muito se vinha alimentando de cadáveres encontrados nas grutas de Beni-Hassan e de pequenas peças de caça. Os esqueletos dos deuses fingindo que não choram enquanto tapam a boca com as mãos de sangue para que ninguém os ouça. As vozes dos animais no corpo, naquele pedaço do mundo de que me habituei a gostar. O cigarro avulso a um passo decisivo da nacionalidade nova do tempo e do espaço dos seus antepassados.
Portanto, se eu hoje tivesse que orientar um jovem espírito para começar a jornada do transe extático, levá-lo-ia a ser um índio entendido no seu sentido mais amplo, desde as grutas de Beni-Hassan, por um lado, até ao gato Ohno-Tatsumi, por outro. 
Flavio Leihan, 2016

    Haiku, de Flávio Leihan
    © Miguel Refresco

Jorge Gonçalves - Holding the hands at the tip of my words

A convite de Dinis Machado e do Ballet Contemporâneo do Norte fui convidado para coreografar um solo para a Barco Dance Collection. Neste momento, os meus interesses têm-se desenvolvido no que denomino como práticas de indexação e focalização, em específico, no modo como o performer desenvolve estados físicos e não ficcionais em relações interpelativas com uma audiência. Assim, o performer opera num espaço comum e não autónomo da audiência para orquestrar uma coreografia de relações com objetos e espaços imaginários, espectadores e abstrações.

Dinis Machado através processamentos visuais e verbais de acontecimentos performativos, irá
ser conduzido por uma gestualidade compulsiva por entre simulações intermináveis de espaços fictícios e de diferentes temporalidades. Todas as suas palavras e gestos irão revelar um mundo que não existe, mas que é indiciado e apreendido através do seu corpo. O público reside no limiar entre participação e contemplação, o que nos questiona politicamente o modo como este espaço performativo se constrói em coalescência com o público.

    Holding the hands at the tip of my words, de Jorge Gonçalves
    © Miguel Refresco

Renata Portas - Que ruído faz o teu corpo contra o meu?

Que ruído faz o teu corpo contra o meu é um espetáculo que nasce da ambição de abordar desvios poéticos: a poesia de Maria Gabriela Llansol, os desenhos de Hokusai, o tentacle porn, oeste do mundo (há latitudes para o desejo?). Maria Gabriela Llansol fala-nos da espera, do peso dos corpos, da insustentabilidade do desejo que se esconde -em todo o lado- do véu,do vestido,da folha de uma àrvore. Interessou-nos cruzar este mundo, que perseguimos há algum tempo,de um mundo vergado à linguagem , onde a palavra é sustentação e tensão com os
corpos e a sua representação no Japão- do universo do Shunga, ao tentacle porn, a fusão entre a beleza rarefeita( que espreita nos lugares mais inesperados,na falha,na brecha, no algures,na terra de nínguem),com a despudorada vontade de explorar os corpos dos intérpretes-princípio e fim de todas as coisas, vasos,flores, objectos e corpos renascidos , ora domados, ora ausentes, ora povoados por nervos e palavras.
Bem- vindos a território desconhecido.
Renata Portas

    Que ruído faz o teu corpo contra o meu?, de Renata Portas
    © Miguel Refresco


Sade Risku - Incoherent Conversation

If I take a walk in my mind and I take you with me? Are you with me? Do you enjoy the freedom? I take a walk in my mind and look around in there, enjoy the freedom. Are you with me? And so, if I am in my mind, where am I really and what can I find in there? You are in my mind and I have something in mind. It is my body-mind talking with your body-mind and thus we could have a mindful physical conversation. And if we together take a walk, it’s a little trip. In the mind. A mind trip. 
Does together mean we need to negotiate?
If I we plan everything, is there no surprise?
In my mind, I can read your mind and we have a common mind and thus master telepathy –obviously not, I’m just dreaming, am I not? Would that make it less real? How real is this anyway if it’s a play? Anyhow, we play the game.

    Incoherent Conversation, de Sade Risku
    © Miguel Refresco

Sérgio Diogo Matias - Insólidos

Dois corpos-textura que vivem uma impossibilidade fictícia de se moverem. Um exercício que procura a textura plástica do movimento, o desdobramento de imagens e um certo brutalismo pós-modernista. Sugerem-se dois corpos estátua que vivem uma atmosfera densa e catártica.  Evocar aquilo que não se vê, mas que possui uma carga física de peso e de sustentação e que se traduz num esforço ou na sua hipérbole.

    Insolidos, de Sérgio Diogo Matias
    © Miguel Refresco